Era um dia de cirurgia qualquer como outro no Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas, eu fazia parte da equipe de perfusionistas que estavam se preparando para se formarem ali um ano, e atuarem em cirurgias de grande porte, transplantes de coração entre outros procedimentos cardiológicos. O paciente estava descansando na maca e aguardava os procedimentos pré operatórios, até aí nada poético, confere.
Meus pés insistiam procurar o cirurgião para acompanhar de perto a incisão do tórax e o procedimento completo desde o início. Em contrapartida, o professor de CEC insistia que eu voltasse ao meu posto da máquina de circulação extracorpórea juntamente com os outros perfusionistas, quais sempre fugiam aleatoriamente também, e nada mais nos restava fazer, á não ser...voltar. Em nosso grupo de perfusão, havia duas biomédicas, um biomédico, e duas enfermeiras. Biomédicos são frios, isso é fato, exceto os poetas ;)
Enfermeiros, não sei dizer...E não me arriscarei...
Mas vi algo além do meu lado biomédico, afinal, vivo com duas almas entrelaçadas e inundadas em um só pensamento, a poesia versos a ciência, ambas brigam e se amam, ferozmente e se torna impossivel não enxergar o que para muitos passaria desapercebido...
Centros cirúrgicos não são frios, são gélidos... Os passos não são ouvidos, se usa "crocs", sim aqueles calçados terrivelmente horripilantes, desculpe-me aos que acham belos, o blog é meu... inclusive tenho que admitir, adquiri um, e andava com ele. :(
As roupas desinteressantes, ou verde, ou azul... usamos pijamas para ser mais sinceros...Não há poesia nenhuma naquele lugar, há um silêncio e um sentimento de morte iminente, uma apatia no ar, não por parte do ser humano, mas do próprio centro cirúrgico em si, como se este pudesse ter vida própria!
Até que uma tarde, diante dos meus olhos, e de uma situação tão rotineira quanto as que tinha presenciado anteriormente, senti algo viver naquele local tão frio, tão apático até então...
O tórax expunha a lacuna e o espaço que receberia o novo órgão vital, na bandeja o antigo ainda pulsava solitário, levei minha mão até ele e senti seu calor, nossa! O meu saltou numa emoção que jamais esquecerei...era imensa a sensação, um coração pulsar em suas mãos, e outro em seu peito!
Um silêncio tomou conta de repente daquela sala de cirurgia, todos rodeávamos o paciente, atentos, e os olhares tão sérios e lábios cerrados nos faziam parecer quase manequins vivos agora...
Nenhum comentário:
Postar um comentário