quinta-feira, 24 de setembro de 2015


O AMOR





Emanava o amor...

O amor era tal, que sentia-se envergonhada em expor diante daqueles que não a compreenderiam...
Não se tratava de um amor pessoal, ou de um sentimento voltado a algo ou alguém...
Era como explosões multi direcionadas.
Estas sempre lhe transcendiam a ponto de subirem como bálsamo até as estrelas...
Talvez somente estas pudessem entender tanto amor.
Sentimento empático, que seguia os passos de uma dança bonita...
Onde seu corpo apenas fluía... Fluía e fluía. 
Os olhos lhe cerravam e um sorriso puro lhe surgia.
A luz da Lua ela dançava, e aquele amor, direcionado a tudo e todos simplesmente nascia.
E num êxtase de alegria, sufocava toda as dores que sentia...
Dissipava a opressão que lhe fazia...
E nestes, somente nestes momentos ela entendia...
Era para isso que se encontrava ainda aqui.






sexta-feira, 11 de setembro de 2015




AS TRÊS IRMÃS


No espaço de nossos pesamentos nasceram três irmãs, uma chamada Alegria, outra chamada Tristeza e a terceira Apatia. Alegria era bipolar, ora estava entusiasmada a dançar pelos vislumbres de muitos... Ora cansada, apenas proporcionando a paz.

Tristeza diferente de Alegria era profunda, suas canções eram lágrima pura, mantinha-se sempre reclusa, não dançava, antes esgueirava-se e quando se davam conta ela já havia tomado todo o ser... 



Apatia não era como as irmãs, antes mantinha-se sempre neutralizada frente às ações de Alegria e de Tristeza. As avistava de longe num silêncio ensurdecedor. A passos calculados mostrava-se indiferente às danças de uma e canções da outra. Seu pulsar de existência era como gotículas de água a cair constante e incessantemente numa poça estagnada. Não contava o tempo como faziam ambas, uma de ansiedade e a outra melancolia. Apenas observava, observava e refletia... 
Mas, algumas vezes era lembrada pela irmã Tristeza, uniam-se numa dor sem igual, equalizavam sua essência de maneira tão sublime e despercebida, que se perdiam de vista da terceira irmã... Esta, por sua vez, continuava em algum lugar, sim, ela ainda estava lá! Mas as duas irmãs estavam tão miscigenadas agora, que pareciam uma só e já não mais se recordavam que possuíam Alegria...


Quando as duas irmãs resolvem se unir, caminham sozinhas pelos pensamentos de muitos, procurando a terceira perdida, pois não compreendem que quem a deixou para trás, foram elas próprias enquanto unidas...

Escritora Tereza Reche

quarta-feira, 9 de setembro de 2015


DOR




A solidão que possuo é só minha, assim como a sua justificadamente a seja. Minhas dores, personalizadas. As suas também decerto as são.  Não denomino a minha maior, tampouco a sua desprezível então. Cada um, mesmo que não mensure a do próximo, decifra aquela que sente. Portanto para que, e de onde vem os achismos de sempre, tentando decifrar dores que nossas não são? O que chamamos de julgamento em vão, talvez nem seja bem isso.
Sejam as almas em ebulição, tentando entender a dor que as possuem, achando que ao compreender a do outro, as suas entendam também... E assim vão essas carnes, quais almas doloridas escondem, brincando com palavras, máscaras e falsos sorrisos. Não o fazem por serem contrárias, mas simplesmente para sublimizarem aquilo que lhes causam como em mim, tamanha dor. 



























Escritora Tereza Reche

terça-feira, 1 de setembro de 2015





A SOLIDÃO DE VERNA 



- Conto -



Verna tinha apenas 15 anos. Era o tipo de, quase mulher que apesar de todos os requisitos supostamente propícios, não encontraria seu grande amor, era um fato. Bela, inteligente e querida por muitos, até insistiria em ser feliz, mas nada mudaria o que o destino traçara em seu tempo de vida, ainda mais após ouvir e acatar seu tão singelo pedido.... Naquele ano, ocorreria com ela algo peculiar. Sempre muito tímida e pouco falante, descobriu que poderia manter um secreto romance com um radialista! Sim, nada mais discreto! Conhecera Vagner, um rapaz de 18 anos, através do programa que este apresentava na rádio local da cidade. Então, a menina, romântica e apaixonada simplesmente transformou suas frequentes ligações na Rádio numa história de amor... Sempre, às 18:00hs ligava para ele e lhe pedia uma música, poderia ser qualquer uma, mas escolheu um título e faria dele a marca de uma história entre ambos. O que aquela ninfeta não sabia, é que Vagner, do outro lado do telefone, aos poucos, dia a dia, se apaixonava também pela doce voz dela, pelas palavras e, sobretudo, por sua inocência. Um ano se passou e todas as tardes, exatamente às 18:00hs, lá estava ela ligando na rádio, solicitando uma melodia, e conversando de maneira ingênua e sonhadora com Vagner. Ele, acostumara de tal forma, que caso ela não ligasse, estranharia a falta que a voz dela fazia. O rapaz havia entrado recentemente no Tiro de Guerra de uma cidade próxima. Todas as tardes, logo que chegava, partia para a Rádio local onde lá, trabalhava como radialista até 22:00hs. O curioso é que sempre, antes de partir, oferecia uma melodia para Verna... E assim ambos, tanto a menina quanto o rapaz, alimentavam-se de seus tolos sonhos, para muitos, sem sentido. 



Na Rádio todos sabiam da doce menina apaixonada pelo carismático e jovem radialista. Foi então, que finalmente; Verna decidiu se declarar, durante todo aquele dia ela pensou em, de uma vez por todas, revelar o que sentia ao jovem Vagner. Porém, ao ligar naquela tarde a ele, quem atendeu foi um outro radialista. Seu nome era Paulo. O profissional atendeu-a, e percebendo o tom entristecido dela explicou que estaria cobrindo Vagner, mas que em breve ela compreenderia o porquê.... Verna não compreendeu, ficou ansiosa pelo dia seguinte, afinal, após um ano seguindo aquela rotina tão prazerosa, Vagner se transformara numa espécie de vício e o mesmo ocorria nele em relação a menina. No dia seguinte o telefone tocou antes que. Verna houvesse ligado na Rádio. Eram 17:59hs de uma sexta-feira. Ela de imediato pensou: - Tanta hora para tocar esse telefone! Justamente agora? Há um minuto para as 18:00hs? - irritada correu atender antes que alguém o fizesse. Do outro lado, a voz mágica de Vagner a surpreendeu! O rapaz rindo da emoção juvenil e do frescor de sua emoção disse enquanto apenas ouvia seu silêncio. - O que diria se eu lhe pedisse para me conhecer? - sorrindo, tentando esconder uma lágrima sem motivo aparente respondeu rapidamente: - Mas eu preciso falar com meus pais! - desta vez um riso dele a deixava apreensiva. Então respondeu após pensar um pouco: 
- Diga a eles que eu estarei segunda-feira em frente a escola onde você estuda. Eu sei que sua mãe a busca todos os dias. Se você estiver sentada no banco, mesmo com ela junto, eu saberei que posso me apresentar. O que acha? Já troquei o dia de ontem com o Paulo, fizemos um bem-bolado aqui e terei um dia todo para você.
Uma alegria tomou conta dela, compreendeu o porquê então disse sim de imediato. Estava definido. Dentro de dois dias, após um longo ano Verna e Vagner finalmente se conheceriam! Sequer o rosto dele conhecia, nenhuma foto, apenas uma voz, palavras e alguns poemas de adolescente que todas as 22:00hs, após se despedirem ela escrevia. Mas Vagner a conhecia, todas as manhãs a via sair do colégio, mas jamais lhe contara. Verna, preparando-se para o grande dia, separou os poemas um a um, eram ao todo mais de 400 poemas! Pensou em entrega-lo, caso o pai lhe permitisse claro... E finalmente, após o sábado e domingo partir, na sala de aula naquela segunda-feira Verna sequer parecia ouvir o tumulto dos colegas de classe. Sua apreensão era tanta para que logo o sinal lhe avisasse de que o rapaz estaria em frente à escola, que nada lhe tomava a atenção. E subitamente o toque soou! Como de costume a mãe da menina a aguardava, mas não aguardaria Vagner.... Rotineiramente, como sempre o fazia, tomou a menina e partiram dali. Num pranto discreto, Verna apenas pensava em como se explicar para o rapaz. Os poemas se encontravam numa pequena pasta rosa. A segurou contra o peito e parecia tentar ali, buscar a presença que mais uma vez não existiu, dele... As horas finalmente passaram, lá estava ela, às 18:00hs a ligar para a Rádio, precisava se explicar! Porém, pela segunda vez Paulo atendeu. Estranhamente ele se encontrava com a voz diferente, parecia rouca. Um silêncio de fundo também mostrou que algo estava diferente aquele fim de tarde.... Verna não havia conseguido localizar a frequência da Rádio, mas pensou ser algo em seu rádio em particular. Enquanto isso, Paulo encontrava as palavras certas, para o momento certo... 

- Verna? Tudo bem?

- Olá, eu poderia falar com o Vagner? É importante! - silêncio absoluto do outro lado. Então após alguns segundos, Paulo respirou profundamente e respondeu em tom quase inaudível.

-Ligue amanhã. Por favor.  - desligou o telefone. 
 Verna, em sua pouca idade, sentiu-se confusa. Franziu o cenho sem nada compreender e tentou ligar pela segunda vez, talvez falasse com outro alguém da Rádio. Mas ninguém a atendeu! Isso nunca havia ocorrido antes em um ano e poucos meses. Na terça-feira, às 18:00hs, ela insistiu. Mas Vagner não se encontrava, do outro lado do telefone a voz de uma radialista que sempre dirigia os programas da tarde a atendeu: 

- Por favor? Poderia falar com o Vagner?

Mais uma vez um silêncio longo, após ele, as palavras estranhas da moça. 

- Verna? Não ficou sabendo querida?

- Ele não foi? - perguntou ela na inocência da situação que realmente se fazia. 

 - Não foi querida. Você não sabe ainda não é?

- Do que? - um temor a fez estremecer por todo o corpo, uma energia estranha tomou conta dela. Então a radialista prosseguiu:

- Ele... - não conseguia terminar a frase - Seu pai tem o jornal da cidade?

- Onde o Vagner está? É rápido, só queria saber se ele irá outro dia, apenas isso.

- Leia o jornal querida. Por favor. - e assim como Paulo, desligou o telefone. 



Verna no dia seguinte pediu ao pai o jornal, mas ele, misteriosamente não lhe quis mostrar. Algo estava estranho... Muito estranho. Foi quando resolveu, naquela quarta-feira na escola, tentar encontrar um jornal com alguém. Das mãos de uma de suas amigas, qual sabia da história entre ela e o radialista, a garota conseguiu o tão procurado jornal de terça-feira! E enquanto caminhava para o portão de saída, tentava encontrar em cada palavra, desde a primeira página sobre o que poderia estar ali descrito sobre o que falavam ou melhor, deixaram de lhe falar... 



Nada encontrou. Guardou o jornal amontoado na bolsa, leria com mais calma em seu quarto. Seu olhar estava confuso, mal conseguia dar conta das sílabas diante do olhar, mal sabia por onde começar. 
 E já com a porta fechada, enquanto retirava as roupas da escola remexia na bolsa, abriu o jornal e de relance leu finalmente a palavra que lhe chamou a atenção: "Radialista Vagner"! Correu o olhar para a redação, foi então que o tempo parou. Releu inúmeras vezes, tentou pensar em algum erro, talvez estivesse cansada... Mas tragicamente, todas as vezes que lia, eram as mesmas palavras ou ainda pior, eram mais dilacerantes, cruéis e surreais. Foram ao todo exatamente onze vezes efetuada aquela fatídica leitura: 

"Radialista morre em acidente de carro neste último domingo, quando voltava do Tiro de Guerra[...]"

 Ao lado, pela primeira vez seus olhos viram o rosto do jovem Vagner. Sua beleza florescia diante dos ainda mais jovens dela. Verna forçou o olhar fixo no dele, ali apático, ele era exatamente como sua mente criativa gerou naqueles mais de 400 dias! Era incrível! E agora estava ali, diante de seus olhos, no preto e branco de um jornal estagnado, morto, assim como ele. Não houve som nenhum mais que ela ouviu naquele milésimo de segundo que não fosse a própria respiração, lenta e detida. Tudo nela parecia cessar. Sentiu aos poucos, lentamente algo correr pelo corpo, era como se os seus sistemas vitais recomeçassem à funcionar, pois decerto, haviam vinda à óbito também por um segundo. Se afastou do jornal, abriu a janela do quarto, precisava respirar ar puro! Sua mente estava tão confusa agora, pensou em ligar para a rádio, entender e ouvir que aquilo podia ter sido um engano, um ridículo engano. Tentar encontrar outra explicação para aquela matéria, qualquer outra, menos a verdade. Era o dia 22 daquele mês, um dia após o seu aniversário... Parecendo escolher este, para que jamais em todas suas primaveras não viesse a esquecer-se... Vagner partira no dia em que ela vinha ao mundo! Aquela numerologia, a redação tão bem escrita, a foto do primeiro encontro entre eles... O título latejante; "trágico acidente, morte instantânea, tiro de guerra, jovem radialista, Vagner...Vagner...Vagner..." Levou finalmente as mãos ao peito e depois, somente depois de exatamente 18 horas sem entender de fato que aquilo havia ocorrido, Verna chorou amargamente. 
 O tamanho da dor, para o tamanho da história, parece um tanto discrepante neste conto. Mas ela pode sentir e tocar o ar naquelas horas, era como se o nada se tornasse denso, a ponto de poder ser transpassado por ela. A imensidão daquele vazio parecia tragá-la. Tudo isso por uma história que não existiu. Ou existiu demasiadamente...

Ela não adormeceu. Os olhos apenas estavam túrgidos, o peito cansado, dolorido e a cabeça girando, feito quando se embriaga de vinho doce, mesmo que sua boca virginal jamais o houvesse sequer experimentado. Nas mãos, segurava os mais de 400 poemas, escritos sempre após as 22:00hs, durante um ano e alguns meses. Seus pais a permitiram que ela não fosse ao colégio. Até por que, ela não mais iria... Seus dias após aquela matéria no Jornal da cidade, simplesmente se transformaria em um marasmo constante, durante muitos, muitos anos. Dias, meses se passaram, não mais desejou ouvir a Rádio, sequer o ligaria novamente. Seus poemas se transformaram em um ensaio poético. E dentro dela, pediu em silêncio para o céu que se encontrava estrelado demais em especial aquela noite, que ele, o doce rapaz que lhe prometera encontrá-la na porta do colégio, ficasse ao seu lado para sempre nos dias em que ela se sentisse sozinha. 
E ainda hoje, passados os anos, enquanto dança sob o luar, parece senti-lo a dançar lenta e calmamente ao seu lado, quase a tocá-la e então sente-se completa. 

Pois o que Verna não sabia, é que o destino já de antemão lhe reservava exatamente o que pedira, para sempre se sentir  por ele protegida, mesmo pensando se encontrar completamente sozinha.





Escritora Tereza Reche