quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Vento...

E o poeta faz mais uma coletânea de desilusões... Sua missão está cumprida. Devastadora brisa que vinha de longe... Sente-se ele sem pernas para fugir, sem braços para estender e assim ajuda pedir, sem seus olhos á ver onde está.
Se vê distante de casa, sem mesmo saber, de qual casa será? Anda agora com a mente, para lá e para cá... Foi um vento que ouviu dizendo suavemente... nos ouvidos do poeta que ainda lhe pertenciam. "Venha, eis o momento em que tudo será definido, em que tudo será diferente..."
Mas não tratava de voz, tão pouco verdade ao poeta, apenas vento... Qual da forma que soprou, da mesma, friamente a levou.
Agora eis o poeta, estendido no chão, sem seus braços e pernas, sem os olhos, apenas a mente, á guardar cada momento, daquele vento que veio, soprar a brisa distante e tão boa, de se fazer mesmo sabendo, que se tratava... "De vento".



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Vazio... Simplesmente Vazio...


Percebemos quando amamos, quando odiamos, quando somos amados, e quando não o somos...
Desejamos algo, com ardência, e deixamos que se dissipe o desejo, simplesmente por não encontrarmos neste "algo", a mesma ardência e sim, um gélido silêncio camuflado num falso sentimento aparente.
Os passos caminham de encontro ao objeto de desejo, enquanto se tem forças ... E quando os passos vão cessando feito um coração já em seus últimos pulsos, é visto o momento de retrocesso.
Nem triste mais o é, simplesmente é nítida essa hora, momento em que mente e corpo juntos pela primeira vez conectados entendem, não mais há o que ser feito, nem criatividade há que possa salvar os destroços restantes de tão óbvio desamor.
Culpa, quem teria? Não...nem existe tal palavra... Só uma nuvem pálida e sem perfume algum, trazendo saudade de tudo, levando as lembranças de nada...
E assim se termina, histórias de amor, que jamais existiram...á não ser na mente daquele que amou.


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Trecho de um capítulo do romance "Armadilhas de Um Tempo"


Segue mais um pequeno trecho do capítulo que estou escrevendo do romance "Armadilhas de Um Tempo"...
"Sim...Pensou Catalina vagamente em sua mente confusa pelas torturas e dores, aquela voz...Era sim Ângela, mas onde ela estava? Estaria ela no paraíso? Ou era um sonho? O que era aquilo? Precisava pensar, assimilar tudo aquilo... Enquanto sua lenta mente, deteriorada pelos meses de tortura constante tentavam captar aquele cenário atípico, um frei que acompanhava  Ângela tomou a frágil moça nos braços.  Retiraram-na de forma calma, pois traziam uma carta assinada pelo cardeal Afonso de Portugal, qual tinha contato e amizade próxima com a agora madre superiora da 3ªOrdem do Carmo. Afonso era um cardeal infante, tinha apenas 30 anos, mas sua aversão pelo protestantismo era explicito, não permitia sequer livros e escritas advindos da Alemanha na época, visto que o rei Henrique VIII havia se desligado de Roma por se apaixonar por Ana Bolenna...
A inquisição em Portugal era relativamente letárgica em relação á Espanha, porém, Afonso preparava o campo para uma batalha tão sangrenta quanto. Porém, a amizade dele com Ângela, e seu desconhecimento acerca dos verdadeiros ideais dela, lhe davam privilégios indiscutíveis, ainda mais em tempos como aqueles... E nesse emaranhado de interesses, vínculos de amizades e segredos, Catalina finalmente estava livre.
E como se a alma dela fosse a alma de Esteban, e a dele fosse a dela, a liberdade que soprava ventilando seu espírito, foi um refrigério para o dele mesmo á distância em meio aos lençóis moribundos do corpo cansado e inerte daquele rapaz.
Seus olhos despertaram de repente, o corpo não movia, estava fraco demais, porém, o olhar abriu para ver o que era aquela sensação de liberdade estranha que de repente tomou sua alma.
Sua mente voltava mais uma vez ao passado, daquela tarde tão bela, e um sorriso quase tolo surgiu depois de tantos meses no rosto ressequido do rapaz... O coração inexplicavelmente parecia saltar no peito que pouco lhe chiava a respirar com esforço naqueles dias... Que felicidade estranha seria aquela... Estaria ele ficando louco?
Estaria por fim enlouquecido por tanto sofrimento e espera? Ficou confuso, tentou levantar-se... Sentiu dificuldade, mas sentou-se, e pode alcançar ao menos o raio fino do Sol no seu olhar tão tristonho, que agora transbordava uma felicidade singela e harmoniosa, quase divinal... Quase insana... Sem identificar o que e por que dela... Apenas sorriu.
Na longa estrada de partida, a carruagem que levava Catalina, era escoltada por cavalos brancos e seguranças do clero. Ela estava adormecida, até que a brisa fria despertou seu sono leve, e pode ver lá fora, finalmente uma luz que há mais de um ano não via... Levou as mãos aos olhos, estavam ainda sensíveis demais, voltou o rosto ao ombro de Ângela que a acalentou como uma mãe, e então voltou á adormecer."
A imagem, é a montanha de Montserrat na Espanha, onde Catalina, minha personagem fictícia, ficou encarcerada durante seu período de tortura pré-julgamento e execução pelo Tribunal do Santo Ofício.