MEDÍOCRE ONIPOTÊNCIA
Meu travesseiro tem teclas e minha cama não sente mais o corpo pacífico.
Minha visão enxerga a névoa deliciosa, límpida que sujo freneticamente agora.
Finalmente sinto o gozo duradouro daquele que cria...
Talvez meses, talvez anos, mas o prazer é linear, pleno e perene...
Os olhos dançam harmoniosamente com as falanges, guiando cada dígito, mesmo que estejam pesados e túrgidos.
Sim, dançam...
Fios de cabelo que reluzem a luz artificial, conduzindo-me à racionalidade, brincam com meu olhar lânguido entre o prazer e o extinguir na embriaguez.
Embriaguez de palavras, de ideias, do som das teclas a gerar música que é droga para cada reentrância dos meus neurônios.
Enfim, culmina-me o clímax transcendente, multicolor e sonoro, repleto de letras miscigenadas e calculadamente reorganizadas, num plano, num destino, numa razão e num propósito chamado de Escrita!
Inspira-me... O silêncio e o nada, inspira-me...
Inspira-me... A tristeza e o tédio, inspira-me...
Destes, nascem novas mentiras, ilusões, falsos sonhos e risos. Todos moldados como no barro, em forma de mulher, homem e criança.
Neles mato, faço nascer, tiro e dou... Minto, revelo... Perdoo e condeno à morte.Manejo e refaço nas mãos das minhas teclas da escrita o que bem desejar...
Eis a medíocre vingança do onipotente escritor. Contra seus fieis e de fato, verdadeiros companheiros; o silêncio, a tristeza, o nada e seu eterno e infinito tédio.
Mas não creio em poetas completos... Não. Não acredito em artista de alma satisfeita. Se este dizer-se assim, de artista e poeta nada terá. Talvez pense, talvez espalhe por aí e faça saber que seja, mas não. Nem sequer passa por essa mente juvenil o que seja sangrar como tal...
Escritora Tereza Reche
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