quarta-feira, 16 de dezembro de 2015




DELÍRIOS DE CASSANDRA
(Fragmento do Romance - em andamento)



Massageando a nuca agora menos tensa, ainda gelada e oculta entre os cabelos revoltos pela ventania, Cassandra pensava em sua profundidade, enquanto as vozes em seu entorno falavam, falavam... Simplesmente falavam.
O que era a Vida afinal? Agora sim estava nítido, como não havia visto antes? Se perguntou uma última vez diante do mar que quase a tragara há segundos atrás... Pouco dava importância a isto agora, mero detalhe. O que lhe tinia nos ouvidos era a resposta que parecia encontrar.



- A Vida era um filme... Um filme... Visto de trás para frente! 




Como se descêssemos uma longa escadaria para um recinto obscuro, sem noção do que ali nos aguardasse. E ao chegar, nos deparássemos com uma sala límpida, onde somente um rolo de filme, de um longa metragem estivesse no centro desta. Mas antes de o colocarmos para rodar, lêssemos sua sinopse... Ao ler, mesmo sabendo que mocinhos morreriam, que donzelas seriam enganadas e ainda assim amariam seus traidores... Que o herói sofreria mais que o necessário e o vilão não seria punido o quanto mereceria, ainda assim, colocássemos o filme para rodar.


Porém, mesmo sabendo de tudo, de todos os atos, de todas as injustiças e que estes seriam fatos, destinos traçados para cada personagem e não seriam modificadas por não serem suportados pelo telespectador. 

Ainda assim, nos perguntássemos no momento das injúrias do filme: 

- Por que? 

Assim era na realidade... O destino nos está traçado; mocinhos morrerão... Vilões não serão punidos, donzelas serão traídas. E é como se esse filme chamado Vida, fosse por todos antes assistido e ainda assim, por tão interessante, fosse aceito ser vivido, porém, mesmo que sabendo dos riscos, no momento das cenas mais fortes, nos pegamos a perguntar:



 - Mas por que?...

Na verdade não há porquês... Não há resposta nem questionamento válido que os justifique. São apenas fatos, eventos traçados de antemão. Destino imposto ao personagem que o propusera assistir, mesmo tendo, provavelmente sido antes advertido das cenas fortes e das consequências para os que o fizessem. 
Somos todos grandes atores, grandes personagens igualmente selecionados para um grande ato! Para um grande longa metragem milimetricamente calculado e escrito. Dirigido por um grande diretor... Onde ninguém, seja o personagem que represente, é menos ou mais importante. Menos, ou mais necessário para que se complete esta atuação, que eu e você assistimos na pele, na alma e espírito o filme que antemão aceitamos fazê-lo. Afinal... 
- O bom ator não questiona, atua.



Assim sorriu o olhar de Cassandra que vagava, enquanto as mãos delicadas do paramédico insistiu em trazê-la para a realidade repetindo a frase pela terceira vez: - Por favor, pode me ouvir? Algum documento? Consegue se lembrar do nome de algum familiar? ...



























Escritora Tereza Reche

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