domingo, 13 de dezembro de 2015



DELÍRIOS DE CASSANDRA
(Fragmento - Romance - em andamento)


Na planta dos pés, finos e agora manchados da terra suja e úmida, caminhava arrastando os passos enquanto iniciava a mesma garoa fina de toda madrugada. A escuridão de fora não atemorizava mais que a de dentro... Tudo era tão insignificante quando comparado ao que vivia no peito.
Enquanto caminhava, respirava dificultosamente o ar frio que tomava o rosto e levava os cabelos, trazendo os respingos da chuva. Mas eram as recordações, a nostalgia que lhe vieram como uma faca lenta pousando precisa no esterno, adentrando devagar quase delicadamente, mas a fim de feri-la era obvio. O peso da água sobre os cabelos, da roupa encharcada, da dor a queimando, a visão dissipando e a confusão lhe tomando... Tudo foi intensificando e trazendo-lhe exaustão!
 Até por fim, sentir a última estocada da lâmina, e sobre a pele verter um sangue quase negro de tão tinto!
Levou-o à boca, sentiu nele o sabor cítrico e adocicado, o oposto de como este deveria ser... Prostrada de joelhos diante do caminho que fazia naquela escuridão sem destino, em meio às árvores e folhas encharcadas pela chuva. As mãos alisavam as folhas, num vai e vem sem sentido, enquanto Cassandra levava o olhar sem forças contra a chuva mais intensa agora a buscar nos borrões que ainda vislumbrava, respostas para como abjurar do corpo, das vestes, da carne, de si...

Escritora Tereza Reche 




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