quinta-feira, 3 de março de 2016





Fragmento do Conto Longo

E SE EU PUDESSE TE AMAR?
(Conto Espírita)




Capítulo: "SEUS PASSOS...

Ao sentir o corpo leve como pluma, Letícia sentiu-se bem... A transição entre a matéria e o espírito, o desdobrar ocorria lenta e vagarosamente, o peso de seu corpo carnal intensificava enquanto seu espírito simplesmente sobrevoava a si mesma. Não temeu, haja vista que inúmeras vezes ainda haveria de passar por isso, bem sabia... Um mantra, talvez gravado em sua alma, iniciava a melodia calma, profunda e a envolvia. Como ondas calmas de uma madrugada fria do mar, seu espírito foi trasladado até um deserto belíssimo! A areia branca, pálida feito sal, dançava lentamente enquanto uma brisa quente a visitava. Letícia estava ainda, mesmo que no astral, sentada em sua cadeira de rodas. Sua idade avançada lhe trazia apego à ela. Enquanto seu olhar já cansado analisava sem muito se importar a beleza daquele lugar, um vulto alto surgia aos poucos diante de si. Ao longe, um rapaz jovem, belo e simpático vinha em sua direção vestido de beca. Nas mãos um diploma de graduação em medicina. Imponente, belo e sorrindo caminhava com tranquilidade a partir do horizonte, enquanto seus passos eram minuciosamente intercalados, a areia era varrida agora com força, como que abrindo espaço para sua suntuosa passagem, até finalmente mostrar aos olhos de Letícia o piso reluzente do mármore do salão onde ocorria a formatura de Noah!



Os aplausos seguiram vindos de forma longínqua, não se entendia exatamente de onde... Letícia sem percepção do que fazia, levantou-se de sua cadeira de rodas, e viu-se como instantaneamente vestida para a cerimônia de formatura do filho. Era mágico! A luz que Noah emanava de si, aproximando-se amorosamente estendeu uma das mãos para que ela o abraçasse. E foi nesse instante, em que ao sentir o calor do peito dele no dela, Letícia pode saber; o amor que ela sempre desejou, que almejava dia e noite se encontrava naquele coração, do filho Noah. Após sentir o rosto quente dele no seu gelado e ressecado pela idade, o observou com avidez. Tentava se apressar em observá-lo, os traços, sentir o quanto mais possível fosse, sua presença ali. Dizer-lhe tudo o que realmente desejava, perdão, amor, arrependimento, dor, desejo de voltar atrás... Mas nada foi dito. Num silêncio obscurecido pelas palmas de vultos tão jovens e belos quanto Noah, Letícia apenas pode deixar que seu sofrimento consciente, derramasse rios de dor em forma de lágrimas. No entanto, sorrindo um sorriso de amor, de redenção e paz, Noah apenas acariciou o rosto enrugado de sua mãe, e deixou-a. Caminhando entre a multidão, desaparecia dissipando aos poucos, até por fim, só névoa restar, silêncio e mais nada.














Escritora Tereza Reche

Nenhum comentário:

Postar um comentário