sábado, 5 de março de 2016




"E SE EU PUDESSE TE AMAR?" 
Fragmento do Conto Longo (espírita) 


E enquanto a mente dela dançava inconstante, Tony como de costume, iniciou naquela manhã sua corrida no Alfredo Volpi no bairro do Morumbi, relativamente próximo de sua nova casa. No ouvido, um mantra que ouvia sempre, “Ananda Giri - Oneness Mantra”... No pulsar do mantra, no pulsar cardíaco, em meio a natureza, a brisa da manhã e a baixa temperatura, Tony intensificou sua corrida. Parecia estar relutando contra o vento que lhe batia contra o rosto. As batidas intensas de suas pegadas, a dor que o olhar trazia e a intensidade além do normal que suas emoções buscavam atingir usando de um esforço acima de sua capacidade o fez, por um instante sentir um tranco no peito. Era como se seu coração lhe recusasse seguir tamanho estresse... Tony, tomado por uma ansiedade, uma falta de temor e até mesmo de vida, agora, num aperto forte entre a garganta e o peito buscou forças de onde não entendia, para relutar contra as batidas fracas de seu coração... Um suor frio o tomou, e num lapso de segundo, o mantra deu lugar a um som intercalado, seguido de um clarão intenso que o fez cessar os passos repentinamente.

- Pai! - parou em meio ao parque e olhando por todos os lados sem fôlego algum pode perceber que estava completamente só! 

Não conseguiu realinhar seu fôlego às batidas de seu peito, quanto mais o esforço era feito por ele, mais a dor de início discreto, intensificava... Disseminando rapidamente pelo braço esquerdo, fazendo parecer que dilaceraria sua mandíbula, tentou pedir ajuda, mas o seu desespero pela dor foi amenizado ao ouvir novamente aquela voz doce infantil, mas sem direção nenhuma... 

– Pai! 

Tony elevou os braços para o sol, e enquanto o olhava fixamente a quase queimar sua retina pela claridade cada vez mais intensa que o consumia, deu um último suspiro enquanto seu corpo caiu repentinamente ao chão. 
Na mansão dos Ginich, Abner lia um jornal na cadeira de vime, em frente a piscina onde os netos brincavam, ainda que sua mente estivesse no ocorrido há alguns meses. Mas como que repentinamente, um sono o tomou de um segundo a outro. O velho Abner recostou instintivamente a cabeça para trás na cadeira confortável, e o jornal caiu ao chão. Seu neto mais velho, Ruy de 8 anos o observava da piscina. E no profundo do adormecer de Abner, algo falava com ele... No sonho, ou visão, não se sabia... O seu avô Abiel lhe surgiu, caminhava pela beira da mesma pisciana até chegar ao seu lado calmamente...

- Você mudou bastante meu neto... – disse o falecido Abiel, vestido de roupas de gala em plena manhã de sol. Abner sorrindo, com os olhos reluzentes respondeu em felicidade aparente pela presença de seu tão amado avô. 

- Sinto tanto sua falta vô...

- Ouça meu filho, precisará ser forte, mais forte do que tem sido até agora. 

- Meu neto... Meu neto se foi.

- Foi apenas o início, precisa ser forte por alguém que estava com você meu filho.

- Não entendi vô.... Do que está falando? - nesse instante, Abner voltou os olhos para a piscina e viu Tony caminhando em sua direção, também vestido de gala, como dificilmente o vira até então. Tony com um olhar calmo disse ao chegar próximo de seu pai:

- Pai, não é como pensamos ser, é muito mais simples. Apenas acredite nisso, do contrário não irá suportar. 

Abner meneou a cabeça sem compreender, mas sentiu Tony distante, o puxou fortemente e abraçou-o temendo e tremendo, sem sequer saber o porquê daquela sensação. Uma voz o trouxe repentinamente para a realidade, os gritos de Mara advindos de dentro da casa. E ao reabrir os olhos, não entendia como, mas em silêncio Abner sabia a razão da histeria de sua esposa...



















Escritora Tereza Reche 

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