segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016


DELÍRIOS DE CASSANDRA 



O seu olhar estava preso no teto... Enquanto tragava avidamente o cigarro. E no mesmo instante em que a fumaça inundava o quarto, os cabelos e as lágrimas que desciam sem que as sentisse pelo chão, ela ousou buscar silêncio daquilo trancando as pálpebras confusas. 
Então uma força tomou sua mente, a frustração, o som do vento... A voz de toda a dor.

Levantou-se!

Mais um vento inescrupuloso a tomou com tal força que a fez reabrir os olhos, num desequilíbrio repentino pode ver-se diante de toda sua lástima transformada num oceano pulsante, e real!
Estava com os pés a quase pender-se pelo precipício de um lugar que não conhecia.  Não teve temor algum, apenas viu-se abençoada, por talvez, terem a levado para seu juízo final transcendentemente.
Não tinha como equilibrar-se, o vento furioso agitava o corpo frágil de Cassandra agora à favor das profundezas do precipício. 
E quanto mais sua dor se intensificava, mais o vento a forçava a pender-se para o fim.
Levou suas mãos a rasgar-lhe os cabelos intensamente, uma loucura parecia gritar-lhe para que se jogasse, se jogasse, se jogasse...
Um som ainda mais ultrajante subia-lhe fisicamente dos pés a mente até então, pulsar como e com seu peito.
Numa angustia nauseante bradou apenas a dor em forma estridente.
Por fim, exausta, ainda mantendo-se desumanamente firme sobre os pés, abraçou o vento em si, pacificou-se... Por um instante, e somente um instante... Ouviu a doce voz de seu filho a chamar-lhe do mesmo precipício. A imagem dele era ainda mais real que o mar furioso sob eles.

- Mãe! Não faça isso! Dê-me sua mão. 
As lágrimas dele eram intensas e derrubavam a cada segundo a face do garoto. 
Cassandra não se moveu, um só movimento e seria lançada ao mar... Mas aquela voz, tão familiar lhe clamando de sua alma para que lhe estendesse as mãos a fazia confusa...
Num olhar tranquilo, mesmo que desprovido de vida, Cassandra fitou-o entre as lágrimas que a inundavam incessantemente impedindo-a de vislumbrá-lo.
- Não consigo... Não tenho forças.
- As suas mãos... Dê-me sua mão. Apenas um passo para trás.
- Não... Me perdoe.
- Quem terminará a história mãe? Senão você?
- História?  - questionou confusa com o comentário.
- Se você não fizer, ninguém o fará... Tem certeza disso? - apontou incisivo para o mar ainda mais tenebroso agora. 
O toque dele em seu ombro a fez reabrir os olhos, mesmo estes, se encontrando em seu delírio abertos. Avistou a imagem do jardim de sua casa, um verde como jamais havia visto!
- Mãe! Não vai terminar a história? Preciso usar o computador. Você está bem? ...
Confusa meneou a cabeça afirmativamente, e tudo silenciou.







Escritora Tereza Reche 

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