sexta-feira, 22 de janeiro de 2016




MULTIVERSOS



Em cada passo que dei, ainda que desviando e esbarrando neles, ainda assim me confundi pensando que éramos todos do mesmo mundo.
A cada tragada de névoa julgada, que dizem nos matar aos poucos. Dessa eu rio satisfeita... 
Não é o meu ou o cigarro dele que fazem mal... Não é o álcool ou a inconstância que nos deterioram.

Mais dano causou em mim e em nós seus julgamentos.
Mais dor causam e continuam a macerar, os olhares superiores de mundos inferiores. 
Ouço tanta coisa intercalada no vento, tanta espada desnecessária que procuram uns aos outros.
Risos, todos estes, vagabundos!
Entre o tumulto de falas em concordância a fim de cercar-nos, ora ouço as tímidas que nos defendem, entretanto, são discretas demais...
Nós deste mundo aqui, apenas observamos... Como o animal silvestre indefeso e aprisionado em meio a cidade tumultuada.
Tumulto invasivo...
Procuramos a concha, onde se adormece e se respira o silêncio que tanto almejamos. 
Por que é tão complexo para aqueles do outro mundo nos interpretar?


A quem devemos pedir que nos explique?
Ou de fato quem nos deve explicação são eles?
Caminhar anos numa estrada estrangeira, adormecer tristemente no leito, temendo aquele que nos acompanha.
Comer sem fome, pois esta se esvai pelo desalento. 
Despertar e num instante prever o longo esforço que há de percorrer em horas de um dia. 
Elevar os olhos descrentes à única visão que lhe parece familiar...
Deter todo e qualquer som que não venha de lá.
Ser julgado pelos deste mundo, simplesmente por ser si mesmo, e ainda assim, desejar ser. 

Escritora Tereza Reche


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