terça-feira, 20 de setembro de 2016

Fragmentos 

PACTOS CÓSMICOS



 [...] 
-Quando souber, lerá coisas que sequer poderia imaginar. Por hora, sossegue seu espírito, e aprenda o que sem pudor e falsas histórias lhe passo. Creio numa grande missão nessa Terra. Uma missão de despertamento, de trazer à luz a Verdade. E não estou só nessa Missão, acredite nisso.
- Que missão?
- Algo profuso, um emaranhado de informações e respostas. Como se cada um de nós tivéssemos uma porção de entendimento, e essa porção junto a outra, e a outra, e mais outra formasse a Verdade.
- Quem te diz essas coisas padre Bruys?
- Eu não sei explicar filho, mas são coisas que estão claras diante de mim, e não consigo compreender como muitos não as enxergam.
- O senhor é muito misterioso.  – riu o rapaz voltando a caminhar sendo seguido pelo padre.
Já ao anoitecer, finalmente chegaram ao destino. Uma pequena cidadela chamada Bizanet. Um senhor já muito idoso seguido de uma moça, aparentando uns 17 anos os aguardava. Era Alícia, uma menina estranha aos vizinhos. Silenciosa e introspectiva, apenas procurava fazer seus deveres, evitando que de si eclodisse tantos mistérios que os demais buscavam descobrir. O idoso era Beni, um adepto do paulicianismo, doutrina que mesmo sendo em certos pontos diferente dos ideais de Bruys, muito haviam em comum. Ele entregou por instantes seu cajado para a neta Alícia e abraçou o jovem padre e seu companheiro de forma amistosa, como era comum fazer.
- Sejam bem vindos, homens da fé! Entrem e jantem conosco.
- Estou de jejum caro homem, mas o rapaz precisa de alimento. Já é desnutrido o bastante. – riu Pedro deixando Andrey entrar primeiro. O rapaz cumprimentou Alícia que silente baixou a fronte sequer respondendo a ele. Já os quatro reunidos à mesa, a conversa tomava conta do recinto. Pedro, sempre ansioso desejava expor seus ideais quase impedindo imperceptivelmente os outros de opinarem em algum instante:
- É o que eu tento descrever. Essas visões, do correto e do inviável! Vejam comigo se estou sendo coerente. O batismo que foi imposto pelo nosso Senhor. Batismo significa “arrepender-se dos pecados cometidos”. Logo, após cometido pecados conscientes devemos nos “arrepender”... Que sentido há em uma criança ser batizada ao nascer, haja vista que jamais conheceu ou teve consciência de seu pecado?
- Ela é destituída de um erro que nunca cometeu.
- Pior! Lhe causam um dano horrível! O de não ter a oportunidade de tal feito. Afinal, batizada uma vez, não o fará novamente... Isso é heresia!
- És um homem tocado por Deus para essa missão, a de passar a palavra e explicar exatamente como Jesus quis explicar. Ele se foi, mas deixou homens iluminados como o senhor para dar continuidade ao seu divino trabalho padre Bruys.
- Obrigada rapaz, mas como eu disse, sou uma peça de um imenso quebra cabeças, e basta uma dessas peças rejeitar sua missão, e a tela estará comprometida.
Nesse instante, como se algo a incomodasse, Alícia deixou repentinamente a mesa saindo do local. Os três se entreolharam, então Beny disse entristecido.
- Minha neta é às vezes um pouco ofensiva. Mas nunca sabemos o porquê. Ela precisa de muita reza padre.
- Ou precisa aceitar a missão meu caro senhor. Rapaz, faça companhia a garota, creio que ela se abrirá à você.
- Mas padre... Eu...
- Vá Andrey, faça o que estou lhe dizendo.   – insistiu Bruys gesticulando para que o rapaz se retirasse. Andrey sem saber muito o que fazer obedeceu. Seguiu os passos da garota que já se encontrava fora da casa simples do avô. A brisa da noite fria parecia deixar um abismo ainda maior entre eles. Andrey se aproximou devagar e mesmo tendo ciência de sua presença, Alícia fez que não o percebia.
- Atrapalho?
Alícia sequer respondeu novamente, apenas olhou-o discretamente e o deixou seguindo em frente rumo ao campo aberto. A escuridão era amenizada pela imensa Lua cheia. Mesmo assim, era um tanto dificultoso andar por ali. Para ela a facilidade deixava ainda mais rapidamente o rapaz para trás que tentava com custo alcançá-la.
- Por favor! Eu só quero conversar!  - insistia enquanto a seguia. Mas Alícia não cessava o ritmo. Então finalmente voltou-se para ele e disse arredia:
- O que tenho para conversar com você?
- Nada de importante, apenas conversa. Nos conhecer. Afinal ficarei alguns meses em sua casa com o Padre Bruys, acho que é importante ao menos nos conhecermos.
- Alícia, prazer. – respondeu prontamente e de forma indiferente.
- Você é sempre assim?
- Assim como?
- Distante das pessoas...?   - nesse instante um flash repentino de luz azul cruzou o céu fazendo o rapaz cair de costas na grama. Porém Alícia, permaneceu exatamente como estava. Apenas lentamente seguiu os olhos ao céu e disse após alguns instantes de silêncio.
- Foi a primeira pessoa que também viu o que vejo desde os 5 anos de idade!
- O que foi isso?! É o apocalipse não é?  - questionou com tremor na voz.
- Claro que não... Você jamais compreenderia.
- Você também? Porque não me explica? Talvez eu compreenda.  – se levantava ainda trêmulo pela visão assustadora no céu.
- Primeiro vou tentar entender o porquê de ter visto a mesma visão que eu, depois conversamos. Por hora, vou me recolher, tenha uma boa noite Andrey.    – tomou o caminho de volta. O rapaz amedrontado rapidamente tomou a frente de Alícia chegando bem antes que ela a casa de Beny. A garota riu discretamente dele, e calmamente caminhou em direção a sua casa. Entretanto, não com a mesma calma, Andrey deitou-se na estreita cama forjada no chão. Virou-se para a parede, e tentando esquecer-se daquela visão surreal, buscava adormecer. Bruys ajoelhado orava, e o mantra de suas palavras finalmente fizeram com que o rapaz caísse em sono profundo.
Porém, a paz desapareceu num instante quando já nas profundezas dos seus sonhos, pode se deparar com a imagem da luz azul anil riscando o mesmo céu. Mas no sonho, ele não temeu, correu imediata e ansiosamente até encontrar por fim, onde terminava o risco de luz. Havia uma chama azul incandescente há metros dele. Algo estranho em formato de cápsula, algo jamais visto em tempos como aqueles. Uma cápsula de aproximadamente 30 metros por 5metros, se encontrava diante de seus olhos assustados, entretanto, encantados com a beleza daquele objeto não identificado. Aos poucos, percebeu que dessa estranha cápsula oval, abria-se um compartimento. Deste, uma luz tão intensa quanto a que riscara o céu surgia. Uma paz foi trazida ao seu espírito confuso, então eis que um ser surgiu fitando-o de forma amigável. Era um ser azul translúcido, rosto triangular e olhos imensos. Corpo fino e longo, extremamente alto onde Andrey alcançava não mais que o joelho do ser. Então, este, gentilmente se curvou para alcançar seus pequenos e vidrados olhos humanos.
- Olá ser humano. Sou dharminiano, do planeta Dharmim, e vim para me apresentar.
Andrey sorriu ao sentir a energia casta e pacífica do ser, respondendo também gentilmente:
- Sou Andrey, sou aprendiz do mestre Bruys. – o ser extraterrestre sorriu desviando o olhar angelical para as estrelas.
- Não há mestres em seu meio pequeno ser. O último foi o Cristo. E não mais reside aqui. Deixou com alguns a centelha do conhecimento, mas há muitos, muitos que confundem os que trazem tal centelha. E é por isso que estou aqui.
- Não compreendo. Você é um anjo?
- Não, sou outra forma de ser, mas sirvo ao mesmo mestre cósmico. Seu cristo é meu cristo. Ele deixou muitos ensinamentos, acerca da evolução de sua espécie, há muitos de mim perdidos aqui, e preciso que nos ajude, pois faz parte dessa missão.
- Que missão?
- Missão Dharmim-Gaia. É uma longa história, mas acredite, se cumprir sua missão, outros cumprirão também, um depende do outro, somos peças de um grande quebra cabeças, sendo que se uma dessas peças rejeitar sua missão, a tela deixará de existir.
... Num lapso de instante o rapaz despertou, era padre Pedro balançando seus ombros, reclamando que já se passava das 7 horas da manhã.
- Perdeu minha pregação rapaz! Como quer ser padre assim?
- Perdoe-me senhor! Eu estava sonhando muito profundamente.
- Sem desculpas, todos sonham, nem por isso deixam de acordar na hora que necessitam. Nunca mais faça isso.
Ao transitar pelo pequeno recinto dos três cômodos da casa de Beny, Andrey cruzou com Alícia. Então com o olhar tentou detê-la...
- Preciso contar-lhe uma coisa.
- Não! Deixe-me em paz.   – esquivou-se dele. Mas o rapaz a seguiu até um cômodo vazio, onde apenas a luz discreta por detrás da cortina fina ultrapassava, um silêncio repentino se fez entre eles. Então ao senti-la mais tranquila disse pela segunda vez:
- Por favor, eu preciso que me ajude à entender.
- Eu não sei do que está falando Andrey! Por que não me esquece e para de perseguir?
- Por que você vê essas coisas desde os 5 anos! Eu acho que sabe muito mais do que eu, apenas me ajude a compreender o que foi aquilo.
- Foi o que você viu! Uma luz azul, como um anjo riscando o céu, nada mais.
- Mentira! Ele apareceu em sonho pra mim. – a garota o fitou dessa vez com interesse.
- Ele quem?
- Sabe do que estou falando.
-Você viu o anjo?
- Não é anjo nenhum! Ele mesmo me disse que não era.
- Ele “falou” com você?   - puxou-o pelo braço assustada.
- Sim, você nunca falou com ele?
Alícia entristeceu o olhar, baixou-o até parecer perder-se nos pensamentos, então prosseguiu:
- Eu nunca o ouvi, ele gesticula, parece falar, mas eu não o ouço, sempre foi assim, desde pequena. Ele está distante, nunca consegue chegar até mim...
- Eu o toquei!  - ela voltou-se para Andrey indignada com as informações.
- Como assim!? Por que você esteve tão próximo e eu não?
- Eu não sei! Estou exatamente querendo saber.
- O que ele disse à você?
- Falou sobre Missão... Missão Gaia...
- Dharmim?
- Isso! Dharmim Gaia! Como sabe se disse que jamais se falaram?
- Eu leio. Ele escreve no céu pra mim.
- Como?
- Não me faça perguntas que não sei responder. Apenas escreve coisas sem sentido, aparecem no céu pra mim.
- Alguém sabe sobre tudo isso?
- Não! A inquisição nos queimaria! Diriam que estamos possuídos de demônios!
- E se for? E se esse ser for um anjo caído? Como as escrituras dizem?
- Não, ele é um anjo. Um anjo do bem, você não sente paz quando ele está perto?
- Sim, tanta paz que não queria voltar de lá.
- Você foi pra onde?
- Quero dizer, acho que fui, parecia um lugar diferente. Ele saiu de uma carruagem estranha, parecia uma caixa de ferro.
- Sim, e chamas azuis o queimavam sem consumi-lo não é?
- Sim! Exatamente.
- Meu Deus! Até que enfim alguém para eu ter a certeza de que não sou uma louca.
- Ele disse algo sobre essa missão, e de que eu e muitos outros tem que cumpri-la, sendo que se um sequer deixar de fazê-la, a missão estará comprometida.
- Eu nunca li nada sobre isso, eu li algo certa vez nos céus como “Alan e Nyan”.
- Não falou sobre isso comigo, foi tudo muito lento, parece que passei dias lá com ele, mas foi apenas num sonho.

- Não foi um sonho, vocês estiveram juntos. E fico mais tranquila agora em falar com você. Após tantos e tantos anos, encontrei quem me compreenda.   – sorriu pela primeira vez ao rapaz que retribuiu no mesmo gesto. 
[...]

Escritora Tereza Reche


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