sábado, 29 de agosto de 2015

CONTO

Cidade Paraíso.



Relato de uma menina qualquer...Ela não tem nome, nem idade, nem mesmo posso dizer que existe. Ela viu seus amigos, aqueles que foram gerados da mesma carne, conhecidos com irmãos, partirem... Mas a esqueceram aqui! Eles se foram um a um, de mala na mão. Dizem que para o Paraíso, afinal, eram abaixo de sete anos. Todos! 
Apenas um lhe foi fiel, lhe acompanhou... Porém, certo dia desses, não se sabe se repentina ou gradativamente, este amigo também a deixou. Partiu em silêncio, mesmo ainda aparentemente mantendo-se aqui. Ela cresceu, tentou ser amada por aqueles que agora, eram parte dela... Rodopiando de um lado a outro, cega diante dos tempos, dias e ventos que vinham, sofreu e finalmente achava que quando os anos lhe massacrassem, aprenderia o por que não poder arrumar as malas e com os irmãos viajar para a cidade Paraíso. Entretanto ainda hoje, décadas depois, continua vagar de um lado a outro, se perguntando por que seu amigo não a acompanha mais e o por que de estar aqui. Alguns fios de cabelo mudaram a coloração, vincos surgiram beirando o olhar. Ela desconhece quem surge no reflexo das águas, não é ela! Há beleza aparente diante de si, mas bem sabe, não há parte dela lá... Aqueles que dizem amá-la não a amam de fato, ela o sabe... Aquela que era a única que lhe preencheria o vácuo, náusea parece dela sentir.
Então essa menina, não mais tão menina, hoje senti-se estorvo e peso demais para o chão que a atrai.
Mesmo assim reflete, o que fazer à respeito? Não sabe... Sequer sabe o próprio nome, o sangue ou porque dela lhe terem tomado! Não mais restando à não ser a corrente de ar que a transpassa todo o tempo... Sente a leveza de uma estadia sem consistência, de uma vida que nunca o fora... Quase flutua como o dançar da névoa em madrugadas frias, facilmente dissipáveis pois jamais existiram!
Ela chora e ninguém vê, grita e ninguém ouve, morre com o passar das horas e renasce com um suspiro, e ainda assim, não à velam!A menina apenas conta os segundos, no compasso de um coração, que enfim a liberem e entreguem as malas, e livre possa finalmente encontrar seus iguais, os irmãos...






















Escrito Tereza Reche

Nenhum comentário:

Postar um comentário