quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Trecho de um capítulo do romance "Armadilhas de Um Tempo"


Segue mais um pequeno trecho do capítulo que estou escrevendo do romance "Armadilhas de Um Tempo"...
"Sim...Pensou Catalina vagamente em sua mente confusa pelas torturas e dores, aquela voz...Era sim Ângela, mas onde ela estava? Estaria ela no paraíso? Ou era um sonho? O que era aquilo? Precisava pensar, assimilar tudo aquilo... Enquanto sua lenta mente, deteriorada pelos meses de tortura constante tentavam captar aquele cenário atípico, um frei que acompanhava  Ângela tomou a frágil moça nos braços.  Retiraram-na de forma calma, pois traziam uma carta assinada pelo cardeal Afonso de Portugal, qual tinha contato e amizade próxima com a agora madre superiora da 3ªOrdem do Carmo. Afonso era um cardeal infante, tinha apenas 30 anos, mas sua aversão pelo protestantismo era explicito, não permitia sequer livros e escritas advindos da Alemanha na época, visto que o rei Henrique VIII havia se desligado de Roma por se apaixonar por Ana Bolenna...
A inquisição em Portugal era relativamente letárgica em relação á Espanha, porém, Afonso preparava o campo para uma batalha tão sangrenta quanto. Porém, a amizade dele com Ângela, e seu desconhecimento acerca dos verdadeiros ideais dela, lhe davam privilégios indiscutíveis, ainda mais em tempos como aqueles... E nesse emaranhado de interesses, vínculos de amizades e segredos, Catalina finalmente estava livre.
E como se a alma dela fosse a alma de Esteban, e a dele fosse a dela, a liberdade que soprava ventilando seu espírito, foi um refrigério para o dele mesmo á distância em meio aos lençóis moribundos do corpo cansado e inerte daquele rapaz.
Seus olhos despertaram de repente, o corpo não movia, estava fraco demais, porém, o olhar abriu para ver o que era aquela sensação de liberdade estranha que de repente tomou sua alma.
Sua mente voltava mais uma vez ao passado, daquela tarde tão bela, e um sorriso quase tolo surgiu depois de tantos meses no rosto ressequido do rapaz... O coração inexplicavelmente parecia saltar no peito que pouco lhe chiava a respirar com esforço naqueles dias... Que felicidade estranha seria aquela... Estaria ele ficando louco?
Estaria por fim enlouquecido por tanto sofrimento e espera? Ficou confuso, tentou levantar-se... Sentiu dificuldade, mas sentou-se, e pode alcançar ao menos o raio fino do Sol no seu olhar tão tristonho, que agora transbordava uma felicidade singela e harmoniosa, quase divinal... Quase insana... Sem identificar o que e por que dela... Apenas sorriu.
Na longa estrada de partida, a carruagem que levava Catalina, era escoltada por cavalos brancos e seguranças do clero. Ela estava adormecida, até que a brisa fria despertou seu sono leve, e pode ver lá fora, finalmente uma luz que há mais de um ano não via... Levou as mãos aos olhos, estavam ainda sensíveis demais, voltou o rosto ao ombro de Ângela que a acalentou como uma mãe, e então voltou á adormecer."
A imagem, é a montanha de Montserrat na Espanha, onde Catalina, minha personagem fictícia, ficou encarcerada durante seu período de tortura pré-julgamento e execução pelo Tribunal do Santo Ofício.

2 comentários:

  1. parabens Tereza... muito bom!!! gostei da parte que a brisa acorda ela.. e a foto da montanha rssss vagner

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  2. A montanha repousa um imenso mosteiro, belíssimo que até os dias atuais se mantém perfeito! Quando o vi pela primeira vez em uma revista de viagens, não exitei rsrs o escolhi como cenário para o cárcere de Catalina ;)Que bom que gostou, espero que todos também apreciem a história =)

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